sexta-feira, 21 de setembro de 2012


Prólogo
O ciclo se cumpre
“Amar alguém com verdade hoje, nesse mundo tão mesquinho e egoísta, é ser escolhido a dedo por Deus para ser luz na escuridão. É dádiva ! Antes mesmo de eu nascer, Ele já havia premeditado tudo o que eu vivi com a minha estrela nesses últimos quatro anos. E tudo o que eu ainda hei de viver ao lado dele até o dia em que eu não mais respirar. Ao ler o início dessa história, não tenha uma ideia da pessoa que você vê hoje, nos palcos. Mas pelo contrário, imagine o garoto mais lindo do mundo, de 17 anos, sorriso irresistivelmente tímido, com o cabelo partido de lado e um milhão de sonhos na bagagem. Eu sempre soube que ele poderia tocar o céu. E como prova disso, hoje ele leva não só música, mas alegria e esperança para o coração de milhares de pessoas desse país. Ele é a fé dentro de cada um, é a certeza de que coisas boas realmente acontecem, que vale a pena crer. Ele trás a presença de Deus nos seus olhos, e ao estar dentro deles, você consegue ter um encontro pessoalmente com o Criador. Ele é formado por algo muito maior do que qualquer matéria, sua essência é inteiramente formada de amor. O mais puro amor. O amor que vem do céu. Que vem de Deus.”

Era Março de 2008. Mais precisamente dia 12. Na cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Ele estava incontestavelmente feliz por ser seu último dia com 16 anos. Antes de dormir, pediu a Deus que, naquela nova fase, o Senhor lhe concedesse seu maior sonho: amar e cantar o amor para o país inteiro.  Muitos o julgariam insano, louco, sonhador. E talvez ele realmente fosse. Mas isso não o impedia de acreditar que seus sonhos pudessem se tornar realidade. A voz dele causava uma espécie de hipnose sonora, e era bonita de mais para ser ouvida apenas na região onde ele morava. Se alguma garota se apaixonasse por ele, assim como eu me apaixonei – falarei sobre isso um pouco mais adiante –, e enxergasse nele a eternidade de amor que eu consegui enxergar, quando para o resto do mundo,  ele era apenas mais um “tentando”, talvez me compreenderiam melhor hoje e me dessem razão para querer protege-lo de muita gente que o cerca por interesses pessoais ou algo do tipo. Havia pouco mais de sete meses que tudo tinha começado. Porque em Agosto, do ano anterior, ele tinha dado oficialmente o primeiro passo na estrada que o levaria rumo a realização de todos os seus sonhos. Ou pelo menos, o maior deles.
Apesar de estar convicto de que Deus ouvia suas orações, ele não imaginava que dois meses depois da véspera de seu aniversário, seus sonhos já começariam a se tornar realidade. Bom. Digamos que ele ainda não conhecia a realidade que Deus havia preparado. E esse sonho real era eu. Não estou me gabando ou insinuando que ele sempre me quis ou... que rezava para que eu fosse sua um dia. Não. Na verdade, ele nem me conhecia. A gente não se conhecia, para ser mais exata. Tanto eu, quanto ele, vivíamos em mundos totalmente diferentes, apesar de ter vontades semelhantes. Ele vivia na estrada. Pouco, porque ainda iniciava sua carreira como cantor. E eu. Ah... Eu era simplesmente uma garota. Comum, porém, não como as outras. E isso eu só fui descobrir depois de muito tempo. Com ele. E, ao contrário do que sou hoje, eu era uma pessoa sem perspectivas, sem grandes ideais e até me arrisco a dizer... sem Deus. Só depois que o primeiro propósito que o Senhor fizera se realizou em minha vida... só depois que ele, o que eu passei a chamar de meu cowboy – ou como os outros diziam, “gurizinho” –  surgiu,  que eu pude compreender o que era sonhar e viver por alguém.
Eu também nasci em Campo Grande, como ele. Mas aos 6 anos, tive que me mudar para uma cidade do interior de Minas Gerais, por conta do trabalho do meu pai. Ele vivia sendo transferido e a gente (eu e minha família) sempre vivia se mudando. Mas não era a distância que seria capaz de separar aquilo que Deus criou para ficar junto. Uma hora o destino daria um jeito de fazer com que nossos mundos distintos se cruzassem e... não mais conseguissem viver sem o outro. Preste bem atenção. Eu disse “sem o outro”, e não longe do outro, está certo ? Existe uma grande diferença entre viver sem e viver longe. Não é por que eu vivo longe dele, que significa que eu consigo viver sem ele, fui clara ?! Viver longe eu suporto e suportaria mais, se fosse preciso... Porém. Viver sem já é pedir muito. E isso eu realmente não toparia por nada.
Pois bem... eu também tinha acabado de fazer aniversário. Tinha acabado de entrar na idade da loucura: os 13 anos. Onde tudo que surge é sempre muito novo e tudo que você quer ter consigo para sempre, seus pais dizem que você enjoará com menos de seis meses. Eu já havia feito alguns cursos de informática e minha mãe havia me prometido que, se eu me dedicasse a concluí-los, ela me daria um computador nesse meu aniversário, e assim o fez. Apesar do presente ser meu, ela me fez jurar que eu deixaria minha irmã usufruir dele também. Seu nome é Lara. E ela sempre gostou muito de música sertaneja, até mais que eu. Assim como no Mato Grosso do Sul, aqui em Minas Gerais o sertanejo também é muito forte e os costumes são praticamente iguais. Rodinhas de viola com os amigos na porta das casas, churrasco com a família aos domingos, comidinhas caseiras e bem matutas... sotaque um tanto quanto caboclo e música. Muita música.  O único mal é que as pessoas daqui não têm o costume de provar o maravilhoso sabor do tereré. Mas enfim... Como eu estava dizendo, Lara é minha irmã e sempre foi muito ligada no que rolava no mundo da música sertaneja. Ela nunca foi de querer ouvir um artista só porque ele era famoso ou tinha uma música conhecida. E eu também não. Logo quando instalaram a internet em meu computador, a primeira coisa que pensei em fazer foi procurar um CD bem legal e fazer o download dele. Lembro-me vagamente de algumas duplas que estouraram naquele ano, mas a que me veio em mente agora é Cesar Menotti e Fabiano. Não sei muita coisa sobre eles... Na verdade, não sei nada. Apenas que eles são irreversivelmente apaixonados por Minas Gerais. Enfim... Procurei algumas músicas deles,  mas acabei não curtindo tanto e deixei pra lá essa história de procurar CD... até que meu amigo, o Murilo, me disse que estava aprendendo a mixar músicas e que talvez eu gostaria de CDs com músicas remixadas. Sertanejas mesmo, porém, num estilo que na época era chamado de “pancadão”. Eu realmente não me lembro as palavras exatas que digitei no Google para achar um CD desse tipo. Na verdade, eu só queria achar uma música, apenas para ouvir mesmo e decidir se valeria a pena baixar várias outras daquele gênero. Só sei que, vieram vários resultados, como você pode imaginar. Choveram várias opções de CDs na tela do computador, e eu não fazia ideia de qual eu queria ouvir. E, ao contrário do que as pessoas normalmente fazem, que é escolher os primeiros resultados por terem o maior número de downloads e visualizações, eu passei por mais de dez páginas do Google, até clicar em um link e baixar um CD qualquer. Eu não sabia, mas a verdade é que de qualquer aquele CD não tinha nada. Talvez, eu não tivesse clicado naquele link por acaso, e sim, porque já estava escrito que naquela data isso aconteceria. Gravei o CD mas nem ouvi todas as canções. E depois de uns dias, acabei me esquecendo daquilo tudo. Porém, numa noite de inverno eu decidi ouvi-lo completamente e assim o fiz. O problema ocorreu na música de número 13. Era uma canção romântica de um garoto que, até então, eu nem sabia se era um garoto realmente. A voz me deixava um pouco confusa. Eu achava meio que “enjoadinha”, mas de alguma forma, ela me incomodava. Tinha algo lá que me fazia querer chorar, assim como eu estou agora digitando essas palavras, ao lembrar que... poxa ! Eu não imaginava, não fazia ideia por que aquilo tudo mexia tanto comigo. A música tinha o nome de Sufoco, que eu só fui saber que o nome era esse semanas depois. Mas voltando ao assunto principal... Caramba! Os planos de Deus são realmente incríveis e inimagináveis. Na canção, quando o garoto dizia “Eu sei que é amor e sinto pra valer, pois por você eu dou a cara pra bater”, era como se ele estivesse falando comigo, apesar de não nos conhecermos. Eu não sei explicar. A letra era incrivelmente linda, mas não era só ela que me chamava a atenção. Tinha alguma coisa lá, por trás dela, algum segredo por trás daquele tom de voz calmo e apaixonante que meu coração desejava descobrir. Volto a dizer: eu não sei explicar... Mas eu juro, por tudo que há de mais sagrado, que hoje, me lembrando das primeiras vezes em que eu ouvi aquela canção, recordo-me que meu coração, de uma certa forma, doía, e eu sentia uma vontade enorme de chorar. Era algo massacrante por dentro. Eu não sei... Eu não fazia ideia do que estava acontecendo e agora, eu posso afirmar com todas as letras que ali foi marcado o dia em que a minha vida mudaria para sempre. Eu não sabia, mas Deus já havia preparado aquele momento e aguardava calmamente o dia em que ele viesse a acontecer realmente. Deve ter havido uma enorme festa no céu, para comemorar o início do cumprimento de Seus propósitos para a minha vida, que, a partir daquele dia, nunca mais seria a mesma.
Alguns dias se passaram e Lara me chamou para ir até seu quarto, pois ela queria me mostrar algo que havia descoberto na internet. A princípio, fiquei um pouco confusa, mas acabei indo até lá. Quando cheguei, ela me disse:

- Olha !!
E eu:
- O quê ?
- Olha !! É o rosto dele.
Eu olhei e encarei a foto de um garoto que aparentava ter aproximadamente 15 anos.
- Ok, Lara ! Mas quem é ele ? Que rosto ? Não estou entendendo nada.
- É o rosto dele ! Do garoto que canta Sufoco.
- Continuo sem entender. Que sufoco, Lara ? Que música é essa ?
- É aquela... que o menino canta “ pois por você eu dou a cara pra bater” – cantarolou –   naquele CD que você gravou. Descobri aqui na “net”, o nome da música é Sufoco.
- Ah, sério ? Que legal, mas... E daí ?
- Então. Estou te mostrando a foto do dono da voz. É ele quem canta ! E ahh ! O nome dele é Luan. Luan Santana. Mas pelo que eu vi, todo mundo chama ele de Gurizinho. Deve ser por causa da idade, sei lá...
- Hm... Entendi. Nossa, ele é novinho !
- Né ? Pelo que li, ele tem 16 anos... Ele é lindo !
- Você gosta do Gustavo, não tem por quê ficar falando dele desse jeito.
- Aff ! Eu só achei ele bonito, só isso. Não estou morrendo de amores por ele. Gostei das outras músicas dele... – Lara respondeu, me achando uma idiota por insinuar que ela estava se apaixonando por um cantor.
- Hm... E quais são as outras músicas ?
- Ah, a primeira que ouvi depois de Sufoco é linda. Meu Destino é o nome dela. Mas já baixei todas !! Quer ouvir ?
- Que... quero. Sim. Eu... Não gostei muito dele, mas... Se importa de tocar uma para eu ouvir ?
- Tudo bem, escuta essa...

O nome da canção era “Faz de conta” e eu até sorri quando ouvi ele cantar “me diz pra quê fazer tanto charminho” . Era tão lindo o jeito que a palavra “charminho” saía da boca dele, não sei explicar...
Algumas horas depois de Lara sair do computador, vigiei da porta para ver se não estava vindo ninguém. E realmente não estava. Então sentei-me depois de certificar que eu estava sozinha ali. Abri a página do Google e digitei por “Luan Santana”, e logo apareceram alguns links a respeito de O Gurizinho. Comecei a pesquisar um pouco da vida dele, e claro, sempre alerta se alguém entrasse no quarto. Em alguns sites regionais dizia que ele tinha 16 anos, até eu achar um mais atualizado dizendo que ele acabara de completar 17. Li também que ele era sul-mato-grossense, assim como eu, e de alguma forma fiquei feliz por isso. Ele tinha um blog, que era atualizado pelo mesmo diariamente. Desde então, passei a acompanhar sua rotina por ali. As escondidas, é claro. Talvez, por eu não saber o significado da palavra sonho, até então, eu acabava me desanimando com a possibilidade da gente se conhecer e... quem sabe, rolar alguma coisa. Por que no fundo, apesar de não ser fã e não ter certeza do que eu sentia, eu sabia que o que me chamava a atenção não era a música dele. De fato, ele era e continua sendo incrivelmente talentoso, mas o que me chamou a atenção não foi isso. Pra falar a verdade, não sei explicar o que foi. Talvez tenha sido a maneira dele conversar, o jeito tímido de se expressar...a maneira que ele piscava, que ele abaixava a cabeça e olhava para cima só com os olhos quando sentia vergonha de alguma coisa, a maneira que ele arrumava o cabelo, um pouco “lambido” para o lado esquerdo, como ele mexia os lábios quando usava aquele aparelho azul, como ele sorria formando covinhas no superior de suas  bochechas... Vejo muitas pessoas hoje descreverem o jeito que ele franze e mexe com as sobrancelhas, mas ele não costumava fazer isso antes, então não está incluso na lista do que mais me prendia a ele. Eu só sei que ele era o meu fascínio, o meu ponto fraco, o imã que me atraia inesgotavelmente. E mesmo que eu não conseguisse descrever, nem imaginar o que me fazia querer ficar tanto perto dele, eu sabia que tinha alguma coisa lá, uma espécie de âncora que jamais me deixaria ir.

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