Prólogo
O ciclo se cumpre
“Amar alguém com verdade hoje, nesse mundo tão mesquinho e egoísta, é
ser escolhido a dedo por Deus para ser luz na escuridão. É dádiva ! Antes mesmo de eu nascer, Ele já havia premeditado tudo o que
eu vivi com a minha estrela nesses últimos quatro anos. E tudo o que eu ainda
hei de viver ao lado dele até o dia em que eu não mais respirar. Ao ler o
início dessa história, não tenha uma ideia da pessoa que você vê hoje, nos
palcos. Mas pelo contrário, imagine o garoto mais lindo do mundo, de 17 anos,
sorriso irresistivelmente tímido, com o cabelo partido de lado e um milhão de
sonhos na bagagem. Eu sempre soube que ele poderia tocar o céu. E como prova
disso, hoje ele leva não só música, mas alegria e esperança para o coração de
milhares de pessoas desse país. Ele é a fé dentro de cada um, é a certeza de
que coisas boas realmente acontecem, que vale a pena crer. Ele trás a presença
de Deus nos seus olhos, e ao estar dentro deles, você consegue ter um encontro
pessoalmente com o Criador. Ele é formado por algo muito maior do que qualquer
matéria, sua essência é inteiramente formada de amor. O mais puro amor. O amor
que vem do céu. Que vem de Deus.”
Era Março de
2008. Mais precisamente dia 12. Na cidade de Campo Grande, capital do Mato
Grosso do Sul. Ele estava incontestavelmente feliz por ser seu último dia com
16 anos. Antes de dormir, pediu a Deus que, naquela nova fase, o Senhor lhe
concedesse seu maior sonho: amar e cantar o amor para o país inteiro. Muitos o julgariam insano, louco, sonhador. E
talvez ele realmente fosse. Mas isso não o impedia de acreditar que seus sonhos
pudessem se tornar realidade. A voz dele causava uma espécie de hipnose sonora,
e era bonita de mais para ser ouvida apenas na região onde ele morava. Se
alguma garota se apaixonasse por ele, assim como eu me apaixonei – falarei
sobre isso um pouco mais adiante –, e enxergasse nele a eternidade de amor que
eu consegui enxergar, quando para o resto do mundo, ele era apenas mais um “tentando”, talvez me
compreenderiam melhor hoje e me dessem razão para querer protege-lo de muita
gente que o cerca por interesses pessoais ou algo do tipo. Havia pouco mais de
sete meses que tudo tinha começado. Porque em Agosto, do ano anterior, ele
tinha dado oficialmente o primeiro passo na estrada que o levaria rumo a
realização de todos os seus sonhos. Ou pelo menos, o maior deles.
Apesar de
estar convicto de que Deus ouvia suas orações, ele não imaginava que dois meses
depois da véspera de seu aniversário, seus sonhos já começariam a se tornar
realidade. Bom. Digamos que ele ainda não conhecia a realidade que Deus havia
preparado. E esse sonho real era eu. Não estou me gabando ou insinuando que ele
sempre me quis ou... que rezava para que eu fosse sua um dia. Não. Na verdade,
ele nem me conhecia. A gente não se conhecia, para ser mais exata. Tanto eu,
quanto ele, vivíamos em mundos totalmente diferentes, apesar de ter vontades
semelhantes. Ele vivia na estrada. Pouco, porque ainda iniciava sua carreira
como cantor. E eu. Ah... Eu era simplesmente uma garota. Comum, porém, não como
as outras. E isso eu só fui descobrir depois de muito tempo. Com ele. E, ao
contrário do que sou hoje, eu era uma pessoa sem perspectivas, sem grandes
ideais e até me arrisco a dizer... sem Deus. Só depois que o primeiro propósito
que o Senhor fizera se realizou em minha vida... só depois que ele, o que eu
passei a chamar de meu cowboy – ou como os outros diziam, “gurizinho” – surgiu,
que eu pude compreender o que era sonhar e viver por alguém.
Eu também
nasci em Campo Grande, como ele. Mas aos 6 anos, tive que me mudar para uma
cidade do interior de Minas Gerais, por conta do trabalho do meu pai. Ele vivia
sendo transferido e a gente (eu e minha família) sempre vivia se mudando. Mas
não era a distância que seria capaz de separar aquilo que Deus criou para ficar
junto. Uma hora o destino daria um jeito de fazer com que nossos mundos
distintos se cruzassem e... não mais conseguissem viver sem o outro. Preste bem
atenção. Eu disse “sem o outro”, e não longe do outro, está certo ? Existe uma
grande diferença entre viver sem e viver longe. Não é por que eu vivo longe
dele, que significa que eu consigo viver sem ele, fui clara ?! Viver longe eu
suporto e suportaria mais, se fosse preciso... Porém. Viver sem já é pedir muito.
E isso eu realmente não toparia por nada.
Pois bem...
eu também tinha acabado de fazer aniversário. Tinha acabado de entrar na idade
da loucura: os 13 anos. Onde tudo que surge é sempre muito novo e tudo que você
quer ter consigo para sempre, seus pais dizem que você enjoará com menos de
seis meses. Eu já havia feito alguns cursos de informática e minha mãe havia me
prometido que, se eu me dedicasse a concluí-los, ela me daria um computador
nesse meu aniversário, e assim o fez. Apesar do presente ser meu, ela me fez
jurar que eu deixaria minha irmã usufruir dele também. Seu nome é Lara. E ela
sempre gostou muito de música sertaneja, até mais que eu. Assim como no Mato
Grosso do Sul, aqui em Minas Gerais o sertanejo também é muito forte e os
costumes são praticamente iguais. Rodinhas de viola com os amigos na porta das
casas, churrasco com a família aos domingos, comidinhas caseiras e bem
matutas... sotaque um tanto quanto caboclo e música. Muita música. O único mal é que as pessoas daqui não têm o
costume de provar o maravilhoso sabor do tereré.
Mas enfim... Como eu estava dizendo, Lara é minha irmã e sempre foi muito
ligada no que rolava no mundo da música sertaneja. Ela nunca foi de querer
ouvir um artista só porque ele era famoso ou tinha uma música conhecida. E eu
também não. Logo quando instalaram a internet
em meu computador, a primeira coisa que pensei em fazer foi procurar um CD
bem legal e fazer o download dele.
Lembro-me vagamente de algumas duplas que estouraram naquele ano, mas a que me
veio em mente agora é Cesar Menotti e Fabiano. Não sei muita coisa sobre
eles... Na verdade, não sei nada. Apenas que eles são irreversivelmente
apaixonados por Minas Gerais. Enfim... Procurei algumas músicas deles, mas acabei não curtindo tanto e deixei pra lá
essa história de procurar CD... até que meu amigo, o Murilo, me disse que estava aprendendo a mixar
músicas e que talvez eu gostaria de CDs com músicas remixadas. Sertanejas
mesmo, porém, num estilo que na época era chamado de “pancadão”. Eu realmente
não me lembro as palavras exatas que digitei no Google para achar um CD desse
tipo. Na verdade, eu só queria achar uma música, apenas para ouvir mesmo e decidir
se valeria a pena baixar várias outras daquele gênero. Só sei que, vieram
vários resultados, como você pode imaginar. Choveram várias opções de CDs na
tela do computador, e eu não fazia ideia de qual eu queria ouvir. E, ao
contrário do que as pessoas normalmente fazem, que é escolher os primeiros
resultados por terem o maior número de downloads e visualizações, eu passei por
mais de dez páginas do Google, até clicar em um link e baixar um CD qualquer.
Eu não sabia, mas a verdade é que de qualquer aquele CD não tinha nada. Talvez,
eu não tivesse clicado naquele link por acaso, e sim, porque já estava escrito
que naquela data isso aconteceria. Gravei o CD mas nem ouvi todas as canções. E
depois de uns dias, acabei me esquecendo daquilo tudo. Porém, numa noite de
inverno eu decidi ouvi-lo completamente e assim o fiz. O problema ocorreu na
música de número 13. Era uma canção romântica de um garoto que, até então, eu
nem sabia se era um garoto realmente. A voz me deixava um pouco confusa. Eu
achava meio que “enjoadinha”, mas de alguma forma, ela me incomodava. Tinha
algo lá que me fazia querer chorar, assim como eu estou agora digitando essas
palavras, ao lembrar que... poxa ! Eu não imaginava, não fazia ideia por que
aquilo tudo mexia tanto comigo. A música tinha o nome de Sufoco, que eu só fui
saber que o nome era esse semanas depois. Mas voltando ao assunto principal...
Caramba! Os planos de Deus são realmente incríveis e inimagináveis. Na canção,
quando o garoto dizia “Eu sei que é amor
e sinto pra valer, pois por você eu dou a cara pra bater”, era como se ele
estivesse falando comigo, apesar de não nos conhecermos. Eu não sei explicar. A
letra era incrivelmente linda, mas não era só ela que me chamava a atenção.
Tinha alguma coisa lá, por trás dela, algum segredo por trás daquele tom de voz
calmo e apaixonante que meu coração desejava descobrir. Volto a dizer: eu não
sei explicar... Mas eu juro, por tudo que há de mais sagrado, que hoje, me
lembrando das primeiras vezes em que eu ouvi aquela canção, recordo-me que meu
coração, de uma certa forma, doía, e eu sentia uma vontade enorme de chorar.
Era algo massacrante por dentro. Eu não sei... Eu não fazia ideia do que estava
acontecendo e agora, eu posso afirmar com todas as letras que ali foi marcado o
dia em que a minha vida mudaria para sempre. Eu não sabia, mas Deus já havia
preparado aquele momento e aguardava calmamente o dia em que ele viesse a
acontecer realmente. Deve ter havido uma enorme festa no céu, para comemorar o
início do cumprimento de Seus propósitos para a minha vida, que, a partir
daquele dia, nunca mais seria a mesma.
Alguns dias
se passaram e Lara me chamou para ir até seu quarto, pois ela queria me mostrar
algo que havia descoberto na internet. A
princípio, fiquei um pouco confusa, mas acabei indo até lá. Quando cheguei, ela
me disse:
- Olha !!
E eu:
- O quê ?
- Olha !! É
o rosto dele.
Eu olhei e
encarei a foto de um garoto que aparentava ter aproximadamente 15 anos.
- Ok, Lara !
Mas quem é ele ? Que rosto ? Não estou entendendo nada.
- É o rosto
dele ! Do garoto que canta Sufoco.
- Continuo
sem entender. Que sufoco, Lara ? Que música é essa ?
- É
aquela... que o menino canta “ pois por você eu dou a cara pra bater” –
cantarolou – naquele CD que você
gravou. Descobri aqui na “net”, o nome da música é Sufoco.
- Ah, sério
? Que legal, mas... E daí ?
- Então.
Estou te mostrando a foto do dono da voz. É ele quem canta ! E ahh ! O nome
dele é Luan. Luan Santana. Mas pelo que eu vi, todo mundo chama ele de
Gurizinho. Deve ser por causa da idade, sei lá...
- Hm... Entendi. Nossa, ele é novinho !
- Né ? Pelo que li, ele tem 16 anos... Ele é lindo !
- Você gosta do Gustavo, não tem por quê ficar falando dele desse jeito.
- Aff ! Eu
só achei ele bonito, só isso. Não estou morrendo de amores por ele. Gostei das
outras músicas dele... – Lara respondeu, me achando uma idiota por insinuar que
ela estava se apaixonando por um cantor.
- Hm... E
quais são as outras músicas ?
- Ah, a
primeira que ouvi depois de Sufoco é linda. Meu
Destino é o nome dela. Mas já baixei todas !! Quer ouvir ?
- Que...
quero. Sim. Eu... Não gostei muito dele, mas... Se importa de tocar uma para eu
ouvir ?
- Tudo bem,
escuta essa...
O nome da
canção era “Faz de conta” e eu até sorri quando ouvi ele cantar “me diz pra quê fazer tanto charminho” .
Era tão lindo o jeito que a palavra “charminho” saía da boca dele, não sei
explicar...
Algumas
horas depois de Lara sair do computador, vigiei da porta para ver se não estava
vindo ninguém. E realmente não estava. Então sentei-me depois de certificar que
eu estava sozinha ali. Abri a página do Google e digitei por “Luan Santana”, e
logo apareceram alguns links a respeito de O
Gurizinho. Comecei a pesquisar um pouco da vida dele, e claro, sempre
alerta se alguém entrasse no quarto. Em alguns sites regionais dizia que ele
tinha 16 anos, até eu achar um mais atualizado dizendo que ele acabara de
completar 17. Li também que ele era sul-mato-grossense, assim como eu, e de
alguma forma fiquei feliz por isso. Ele tinha um blog, que era atualizado pelo
mesmo diariamente. Desde então, passei a acompanhar sua rotina por ali. As
escondidas, é claro. Talvez, por eu não saber o significado da palavra sonho,
até então, eu acabava me desanimando com a possibilidade da gente se conhecer
e... quem sabe, rolar alguma coisa. Por que no fundo, apesar de não ser fã e
não ter certeza do que eu sentia, eu sabia que o que me chamava a atenção não
era a música dele. De fato, ele era e continua sendo incrivelmente talentoso,
mas o que me chamou a atenção não foi isso. Pra falar a verdade, não sei
explicar o que foi. Talvez tenha sido a maneira dele conversar, o jeito tímido
de se expressar...a maneira que ele piscava, que ele abaixava a cabeça e olhava
para cima só com os olhos quando sentia vergonha de alguma coisa, a maneira que
ele arrumava o cabelo, um pouco “lambido” para o lado esquerdo, como ele mexia os
lábios quando usava aquele aparelho azul, como ele sorria formando covinhas no
superior de suas bochechas... Vejo
muitas pessoas hoje descreverem o jeito que ele franze e mexe com as
sobrancelhas, mas ele não costumava fazer isso antes, então não está incluso na
lista do que mais me prendia a ele. Eu só sei que ele era o meu fascínio, o meu
ponto fraco, o imã que me atraia inesgotavelmente. E mesmo que eu não
conseguisse descrever, nem imaginar o que me fazia querer ficar tanto perto
dele, eu sabia que tinha alguma coisa lá, uma espécie de âncora que jamais me
deixaria ir.